terça-feira, 15 de julho de 2014

Entre a incompetência e o descaso

A Copa do Mundo terminou e as pesquisas dizem que um percentual importante dos presentes à Copa do Mundo, incluindo autoridades e torcedores de países que participaram das competições, experimentaram uma reversão de expectativas:
- esperavam um show da seleção brasileira em campo, e viram um time fraco, sem padrão de jogo, que caiu vergonhosamente diante do primeiro adversário de peso na história das copas do mundo;
- esperavam um caos fora dos gramados, e foram positivamente surpreendidos com segurança, organização, estadias, alimentação. Aqui, a ressalva parece ter sido sempre a mesma, especialmente por parte dos torcedores: custos muito altos (mas isso é um outro assunto, que merece um outro texto só a esse respeito).

Em uma primeira leitura, que eu chamaria de superficial e ingênua - esse é o meu ponto de vista! - é possível dizer que o Brasil está muito à frente do que a comunidade internacional, e mesmo boa parte da população (incluo a mim mesmo!) acreditam a respeito do nosso país.

Em uma análise um pouco mais cuidadosa - lembrem-se que esse é o meu ponto de vista! - algumas questões merecem ser levantadas:
- temos sofrido anos seguidos de piora enorme nos índices de violência em TODAS as capitais de estado do Brasil. Cidades como Fortaleza, que foram lugares tranquilos e muito receptivos ao turismo nacional e internacional até um passado muito próximo (até por volta de 15 anos atrás), viraram lugares EXTREMAMENTE PERIGOSOS, onde a população está na condição de refém da criminalidade. Em São Paulo, a maior cidade da América do Sul, esse assunto é tão recorrente que é quase desnecessário dizer, mas vamos lá: aumento ENORME nos índices de latrocínios, assaltos a mão armada, assassinatos, sequestros, além da "invenção" de muitas novas "modalidades" de crimes, como "sequestros relâmpago", arrastões em restaurantes, arrastões em condomínios, movimentos organizados de agressão à polícia, assassinatos de policiais, e a lista segue...
Em sua totalidade, as alegações para essa escalada de violência, que passa pelas explicações das diferenças sociais e as mazelas dos menos favorecidos, sempre cai no mesmo denominador comum: "HÁ FALTA DE RECURSOS PARA COMBATER A CRIMINALIDADE!". Essa explicação sempre foi uma mentira evidente, já que temos a maior carga tributária da história do país, e uma das maiores do mundo... se falta recursos e direitos assegurados à população (transporte, educação, saúde e segurança) SOBRAM RECURSOS PARA O ESTADO GORDO E INERTE QUE GOVERNA O NOSSO PAÍS!!!
E qual o legado dessa Copa, na minha opinião? O maior legado dessa Copa do Mundo realizada em território nacional, que surpreendeu pela falta de "acidentes graves" fora dos estádios é um só: expor a situação a que nós, filhos da pátria mãe, pagadores de impostos, cidadãos brasileiros, estamos DESNECESSARIAMENTE SUJEITOS há tantos anos. Essa Copa evidencia que a decadência das condições de vida experimentadas pela população brasileira é fruto de uma entre duas alternativas possíveis:
- incompetência, situação menos provável, pois senão a Copa teria sido o desastre que muitos supunham (inclusive eu!)
- o MAIS INDECENTE DESCASO COM O ESTADO DE COISAS A QUE NÓS, CIDADÃOS BRASILEIROS, ESTAMOS EXPOSTOS DIARIAMENTE!
Na mais absurda das inversões de valores, quando é pra inglês ver, o Planalto Central soube fazer sua lição de casa, mas quando é em prol da população brasileira..... está dito!!!

terça-feira, 3 de junho de 2014

Gurus empresariais – imagem ou miragem?

Outro dia, em um jantar com dois profissionais de muito sucesso e influência no universo corporativo, deparei-me com um assunto que algumas vezes vi abordado, mas nunca diante de uma perspectiva efetivamente realista. A situação se apresentou quando mencionávamos um consultor que teve um papel influente na vida de um desses executivos, segundo sua percepção. Esse homem de muita qualidade e sucesso profissional acrescentou que um dia, em uma conversa com um outro executivo, alguém que também tem uma posição de grande envergadura no mercado empresarial brasileiro, ouviu desse profissional que aquele consultor em referência era “seu guru”. O assunto não se alongou muito, mas a ideia continuou a fazer suas voltas em minha mente de permanente inquietude.

O que é ser um guru, e o que é ser um guru de um executivo de grande sucesso, um profissional que atingiu um patamar profissional e um destaque que “seu guru” jamais poderia experimentar? Não poderia seguir esse texto pela via que lancei, apenas como provocação, de avaliar a importância de uma pessoa, guru ou não, pelo seu grau de influência, destaque ou sucesso concebido como posições corporativas e conquistas financeiras. Mas vamos examinar o que essa sociedade que privilegia o sucesso financeiro como fator primordial na qualificação de uma vida “bem sucedida” diz sobre essa figura emblemática, o guru.

Embora a conversa naquele jantar tenha transcorrido apenas brevemente sobre esse tema, levantei a tese que agora quero aprofundar, de que o guru é assim nomeado por ter uma importância que não se pode dimensionar no mundo das empresas, dos cargos, das cifras e bônus. Aquele que nomeia alguém como guru sente que algo em si, ou algo de si, foi mobilizado, tocado, promovido ou eleito ao plano da conversa por aquele que ele passa então a chamar de guru.

Indo um passo adiante, o guru é a pergunta que não foi feita, é a referência que não vem pronta, é a resposta desligada do mundo fechado das atividades empresariais. Acima de tudo, o guru é aquele que, por competência ou acidente, consegue provocar algo de novo em um profissional cercado e cerceado por um mundo de poucas portas e quase nenhuma janela!

A condição humana é uma experiência permanente com a parcialidade, com a cisão, com a impossibilidade, com a limitação, com a finitude. E o executivo, em sua jornada épica e solitária é um “EU” inflado que sofre com a solidão essencial e com a evidência que o travesseiro e um dia após o outro explicitam, a dor de existir e a impossibilidade de experimentar o que descrevem como o pote de ouro ao final do arco íris: a felicidade plena! Ele, que lá chegou e pode até abaixar-se para recolher o ouro e o pote, sente-se parcial, porque em sua condição humana, está fadado ao mesmo vazio que faz estremecer qualquer outro homem, do que escalou o topo do mundo ao que nunca soube se haveria amanhã.

Aparece alguém que indica livros que ele próprio não leu, que fala de frases que não elaborou, mas repetiu porque percebeu que nelas havia algo de provocativo, que repete o que outros produziram e planta no “poderoso sem reino” a enunciação de um enigma. Não falo de um enigma específico, mas de um “ar enigmático”, de um lugar de saber, de uma fleuma, de uma aparente plenitude, do alto de uma felicidade que, no caso dele, parcial e limitada como em qualquer humano, é camuflada pela sua posição de invertida superioridade diante daqueles que admira e inveja, mas cujas fraquezas ele conhece como bom sofredor, e cujas provocações permitem o uso que o repertório de seus provocados, sua capacidade, seu vocabulário pessoal, profissional e afetivo, puderem viabilizar.


Ou seja, clara e simplificadamente, o guru promete o que não tem e, portanto, não entrega, mas o outro recebe. O que alguém recebe de um outro que não entrega? Aquilo que suas reflexões e recursos podem produzir a partir de um enigma. O guru recebe os louros pelo trabalho de quem nele acreditou, trabalhou, e produziu! E como a sua ação não é tangível, embora sentida pelos seus influenciados, é nomeado com outro enigma, sem obras tangíveis ou mensuráveis, mas como alguém que influenciou um outro alguém a alguma coisa. Aos que perceberam alguma semelhança com uma outra atividade, embora haja ressalvas muito importantes a se fazer, não se trata de mera coincidência... voltarei em momento oportuno.