quarta-feira, 10 de abril de 2013

Saudade


A mão aproxima o rosto. É o braço esquerdo que sobe lentamente em direção à face; a cabeça se curva levemente. Mão e rosto se tocam... 
                                         suavemente.

O gesto.

A intenção - são. E salvo? E salvo! Salvo a imagem, o gesto, a vida é intenção.

Por quantas vezes esse caminho se repetiu, quase ritualmente, lento mas sem vacilar, renovando a aposta. E cada aposta dirige, expõe, afirma. A vida na potência do gesto, da intenção. Ser e fazer... 
                                                         o possível.

A pergunta veio tantas vezes: eu vou morrer? E a resposta nunca escondeu, mas dirimiu o que se colocava: o prazo e não o fato. E quem sabe? E quem jamais saberia? E quem jamais saberá?

Era sempre o gesto a se fazer presente, a manter a aposta em si, lá, dó... pela cena, 
                                     última, 
                                                  ceia. 
A dor crua do inevitável, única e desoladora certeza:                                                                                   sentença.

Mas sobrevive o gesto, que não abandona quem assistiu, amparou, sentiu, viveu a vida escapando... o tecido se desfazendo, o fio puxado de mãos que ironicamente sempre foram tão habilidosas em tecer. 

E da sentença fica uma luz: na intenção, no gesto, no suave toque da sua mão em sua face.

De volta às cinzas, era o vento que soava mais alto. O movimento das folhas, das árvores, do verde da noite, aquela curva na estrada.

Lembrar é reviver a luz, 
                                          da intenção, o 
                                                                                 gesto. 

Sua mão em seu rosto, nosso amor em sua face. 


s a u d a d e

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