A mão aproxima o rosto. É o braço esquerdo que sobe
lentamente em direção à face; a cabeça se curva levemente. Mão e rosto se
tocam...
suavemente.
O gesto.
A intenção - são. E salvo? E salvo! Salvo a imagem, o gesto,
a vida é intenção.
Por quantas vezes esse caminho se repetiu, quase
ritualmente, lento mas sem vacilar, renovando a aposta. E cada aposta dirige,
expõe, afirma. A vida na potência do gesto, da intenção. Ser e fazer...
o
possível.
A pergunta veio tantas vezes: eu vou morrer? E a resposta
nunca escondeu, mas dirimiu o que se colocava: o prazo e não o fato. E quem
sabe? E quem jamais saberia? E quem jamais saberá?
Era sempre o gesto a se fazer presente, a manter a aposta em
si, lá, dó... pela cena,
última,
ceia.
A dor crua do inevitável, única e desoladora certeza: sentença.
Mas sobrevive o gesto, que não abandona quem assistiu,
amparou, sentiu, viveu a vida escapando... o tecido se desfazendo, o fio puxado
de mãos que ironicamente sempre foram tão habilidosas em tecer.
E da sentença fica uma luz: na intenção, no gesto, no suave toque da sua mão em sua face.
De volta às cinzas, era o vento que soava mais alto.
O movimento das folhas, das árvores, do verde da noite, aquela curva na
estrada.
Lembrar é reviver a luz,
da intenção, o
gesto.
Sua mão em seu
rosto, nosso amor em sua face.
s a u d a d e
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