segunda-feira, 3 de junho de 2013

E a política?

E a política?

Tenho escrito nesse blog já há algum tempo, e por algum motivo (posso pensar em vários, mas prefiro não perder o foco), não escrevi nada de conteúdo político. Importante dizer que a política é a atividade humana essencial... não existe o famoso “sou apolítico”, pois se eximir de uma posição já é uma forma de se posicionar. Em um mundo e um país “teoricamente” democrático, expressar posições e partilhar reflexões é um exercício de cidadania, senão uma obrigação de cidadão. Sim, entendo que ser cidadão é dizer abertamente no que se acredita, em quem se acredita, o que se espera, criticar e propor soluções, e partilhar suas posições diante de outros votantes cidadãos, que acostumados a, como eu, apertar os botões da “aclamada urna eletrônica”, nem sempre o fazem por um motivo à altura do que esse “pequeno grande” gesto representa.

Tenho expressado, em doses pequenas e de forma um tanto dispersa, um claro desagrado com os rumos que vêm sendo traçados e levados adiante desde a eleição do nosso primeiro “presidente operário” e que, em função de uma crise econômica, sobre a qual cabe me estender um pouco mais, ficam ainda muito mais evidentes na vigência do mandato da atual presidente da nossa república.

Começo com uma pequena reflexão sobre os nossos recentes milagres: da estabilidade econômica (herdada de gestão anterior) ao “espetáculo do crescimento” (acidental e insustentável, como as evidências começam a explicitar), passando, com o devido destaque, pela crise financeira mundial que, segundo o então presidente da nossa república, foi causada pelos homens brancos de olhos azuis. Esse senhor, que despertou a curiosidade do mundo por sua incrível trajetória pessoal e política, jamais se vexou ao verbalizar pérolas que, em outros tempos, teriam causado horror nos meios de comunicação e na sociedade civil. Entorpecidos pelo romance que representava a ascensão de um homem simples e de poucos recursos (e ressalto que esses poucos recursos, no que diz respeito aos seus aspectos financeiros, são assunto de um passado remoto, e não têm nenhuma relação com a situação atual do senhor de codinome Lula e sua afortunada família) ao cargo mais alto do Poder Executivo de nossa multicultural nação brasileira, perdemos o senso crítico e deixamos que nossa capacidade crítica fosse eclipsada pelo romance. Seria empolgante escrever ou ler a biografia do senhor Lula, mas tê-lo como Presidente e acompanhar a luta pela manutenção de um claro projeto de poder elaborado e cuidadosamente colocado em prática pelo Partido dos Trabalhadores é um outro assunto, de implicações desastrosas e grande ônus ao nosso país. E para quem ainda não percebeu, digo nossa república, nosso país, pois é disso que se trata... nem um milímetro a menos do que a afirmação inequívoca de que essa terra é nossa, dos cidadãos que, ao se calar, consentem com o que concordam (nenhum problema nisso) e com o que discordam (e aí o problema é evidente!).

Pois me vejo mobilizado a seguir com alguns episódios recentes, que podem parecer se tratar de uma questão apenas – a segurança pública, já me adianto – mas falam de muito mais coisas: são a expressão clara de uma nação que perdeu a voz e o respeito, que não tem representação política e ativismo, que está embriagada ou aturdida por um descalabro que já não parece ter início, e muito menos fim. Cito 3 episódios recentes na história de São Paulo: 3 latrocínios (roubos seguidos de morte) onde o fruto do assalto havia sido entregue aos criminosos e nenhuma reação foi esboçada, mas aqueles, os criminosos, mataram suas vítimas após obter o fruto de sua investida. Mataram por que? Porque para eles não faz a menor diferença! Mataram porque não têm qualquer respeito pela vida e pelo outro, e porque sequer o sistema penal, leniente e ultrapassado, inibe com rigor esse tipo de ação. Ressalto também que uso a palavra criminosos, porque é essa a que define o que são e fazem e porque, em nossa sociedade precária mas preocupada com um discurso politicamente correto, tem sido desastrosamente substituída, como lamentável fruto de análises banais e supérfluas, por outras, que exibem suas tendências e irresponsabilidade pela via de um discurso pseudo intelectual acadêmico – vítimas do sistema, excluídos, minorias, e outras formas de ideologia que pregam a desigualdade (injusta, com certeza!) como origem de todos os males. Eu diria que, no mínimo, essas pessoas nunca ouviram falar do país com a segunda maior população do planeta, a Índia, que convive com um nível de miséria terrível e um índice de violência extremamente baixo.
Vivemos em um país rico ou em um país carente, afinal? Segundo o senhor Lula, vivemos na Suíça em franco processo de formação. Imagino que a “unidade partidária” e a atual Presidente também concordem com essa leitura. Na minha opinião, não menos importante, de um cidadão pleno de suas capacidades mentais e críticas, embora branco e de olhos azuis (devo pedir desculpas por isso??), vivemos e estamos construindo um país cada vez mais carente: de educação, de infra estrutura, de educação elementar, de saúde (são essas as obrigações do Estado) e de valores morais, de respeito, de dignidade, de seriedade, de compromisso, de um quadro político minimamente decente e comprometido com seu mandato. E paro para mais uma pequena reflexão: a palavra “mandato” indica que esses senhores e senhoras, eleitos pelo povo, são seus representantes e exercem em seu nome (da população civil) um mandato... são mandatários de uma vontade popular e sua obrigação é lutar por esse mandato; nada mais, nada menos! Políticos de carreira, comuns no Brasil, são um desastre, uma distorção lamentável de uma herança, e por que não dizer, de um Estado caudilho que não faz senão legislar em causa própria... sem vergonha, sem pudores, sem explicação.

E nós seguimos calados, vitimados, violentados, empobrecidos em nossa mobilidade, em nossa segurança, em nossa dignidade. Temos nosso trânsito reduzido aos poucos lugares em que nos sentimos seguros (e nunca estamos), diante de uma polícia insuficiente, mal equipada, mal treinada e levada ao limite da impotência (e do descaso) diante de sua única obrigação, que é garantir que possamos, com o fruto do dinheiro que conferimos ao governo em suas esferas municipais, estaduais e federal, ter nossa liberdade de ir e vir assegurada. Mas nem ir, nem vir, nem bem ficar em lugar algum, pois as estatísticas não impressionam mais, não inibem, não condenam criminosos, mas aprisionam uma população civil desarmada, inerte e institucionalmente indefesa. Cada morte violenta que, por algum motivo, mobilize a mídia, gera protestos, passeatas, gritos por paz jogados à arena dos lobos, famintos por sangue e dinheiro. Sempre que isso acontece, vemos um familiar enlutado e destruído em sua dignidade perguntar: “quantos mais terão que morrer para que algo mude?”. Pois a resposta que temos recebido em posição inequívoca de nossas “autoridades” é “pouco importa!”. Não há qualquer mudança de curso, proposta de ação, debate dos setores responsáveis sobre que providências tomar, como tratar de problemas que exigem uma resposta: ampla, enérgica, imediata!


Sim, estou revoltado! Sinto-me invalidado, destituído de minhas conquistas, seguidamente ludibriado por um país que, apesar das promessas, não deu qualquer indício de ser o país do futuro. Mas levanto minha voz, minha palavra, minhas ações. Não vou morrer quieto em um sinal fechado ou passeando com minha esposa e meu cachorro. Vou gritar mais alto e mais longe e convido quem quiser a erguer também sua voz.

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