quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A contemporaneidade, a lebre e a tartaruga

Houve um tempo, não muito distante, em que o hábito de contar fábulas era uma das maneiras de educar as crianças. Digo não ser muito distante porque eu próprio ouvi inúmeras fábulas, repetidas por diversos de meus educadores, por várias vezes, durante toda a minha infância, e mesmo no início da minha vida adulta. No mundo das lebres em que vivemos, alguém há de perguntar: quantos anos você tem? - ao que eu responderia, tranquilamente, que estou prestes a completar 46. Ainda no mundo das lebres, certamente muitas lebres, digo, pessoas, vão responder que, nesse caso, "isso já faz muito tempo!". É justamente aí que começam as nossas questões, e vou me desviar um pouco do assunto inicial (ou do título desse ensaio) para um reforço na idéia que venho expressar.

Uma breve busca na "wikipedia" me permite dizer que o homo sapiens existe há algum intervalo de tempo entre 250.000 e 450.000 anos. Um passo adiante e sabemos, segundo a ciência atual consegue calcular, que a existência dessa espécie à qual pertencemos, acontece em uma ínfima fração de tempo, desde a formação do planeta terra, que aconteceu a aproximados 4,45 bilhões de anos. Visto por esse ângulo, acho que algumas lebres pensariam duas vezes: talvez 45 ou 46 anos não sejam muito....

Vamos pensar um pouco na filosofia e em alguns dos grandes pensadores da história: Platão, Aristóteles, assim como os quase contemporâneos Nietzshce e Freud permanecem como fontes fundamentais de estudo, e muito pouco do que pensaram pode ser refutado. Aliás, como é natural das ciências não positivistas, pouca coisa que pode ser afirmada em algum momento como tese perde completamente a sua validade, ainda que outras teses que se sigam venham a dizer coisas diferentes.

Sinto que situei um pouco melhor a minha linha de raciocínio, nessa breve visita ao mundo das ciências, para retornar às fábulas, ao seu papel, e à mudança muito recente que denunciam quanto à maneira como o homem tem olhado para o mundo e para a própria vida.

Comecei esse texto dizendo que as fábulas tinham um conteúdo moral. Ou seja, elas sempre foram escritas e utilizadas para transmitir valores, para educar. Imagino um jovem de hoje pensando na fábula da lebre e da tartaruga. Ele provavelmente acharia uma tolice, e certo de que a lebre sempre seria o animal mais rápido, daria pouco importância a quem ganhou a competição.... afinal, todos sabem quem era o melhor. Essa é, infelizmente, a mentalidade que vem impregnando as gerações mais novas, por falha na transmissão de seus educadores diretos - seus pais. Aliás, como observação, educação é responsabilidade primordial da FAMÍLIA, e a escola apenas ajuda e fornece um conjunto de aprendizados "técnicos" aos jovens em formação.

Algo parece fazer crer, no mundo atual, que ter o melhor carro, ser o mais rápido, o mais forte, ter mais poder e mandar são medidas de valor. Empenho, persistência, paciência, tolerância, civilidade e respeito têm sido colocados em segundo plano na formação de uma geração que acredita que tudo pode, que tudo está ao seu alcance e que as regras não foram feitas para eles.

Os delinquentes do mundo contemporâneo não são os jovens contraventores e suas cabeças vazias de "fábulas e valores de tartaruga".... são seus PAIS! Esses estão construindo uma sociedade que acredita que "quem pode mais chora menos". E os outros? Os outros são problemas dos outros, sejam lá quem forem.

Diante desse quadro que me parece endêmico, sonho com pais e fábulas, com filhos e contos de fadas, com Papai Noel e a fada dos dentes. Espero poder viver o suficiente para que um novo equilíbrio se imponha, pois unir-se a cada tragédia não evita a fatalidade que está sendo escrita dentro dos lares da família moderna.... o que se protesta como "fatos lamentáveis e criminosos" (e de fato o são) é apenas a consequência evidente de uma era que cria lebres e despreza as tartarugas.

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