terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Morte e vida

Tenho escrito alguns textos que, de forma mais ou menos direta, mais ou menos pessoal, mais experiencial ou teórica, trazem o luto como um assunto central.

Depois de algum tempo e alguns comentários, sinto que cabe expandir um pouco - talvez muito - o assunto, para dizer que se falo da morte é porque aposto na vida. São apenas as duas faces indissociáveis de um mesmo conceito, ou antes de uma mesma experiência, a da própria existência!

Acho importante inaugurar essa viagem pelas entranhas do ser com uma afirmação simples, mas de grandes e fundamentais implicações. Nenhum assunto nos toca se não é de crucial importância para nós! A morte comove pela proximidade e pelo caráter inexorável, mas também e tão somente àqueles que se apegam e esperam da vida um retorno. Quem não se importa com a morte, é porque está, bem ou mal (afinal há quem persiga o desapego como forma de libertação), desapegado ou desprendido da vida.

Quando falo do luto, gostaria de ampliar a morte do outro como um luto que fazemos em nome próprio. A constatação brutal da morte na carne de quem amamos confirma a nossa experiência futura com o vazio, e aguça nossos apelos pelas coisas que nos referenciam, que amamos, pelas pessoas que queremos ao nosso lado, pela nossa própria saúde, pelo sentido de nossa existência.

A morte é muito mais do que um evento externo: ela é uma dor escruciante pela impossibilidade de eternizar a vida, e isso se estende à nossa própria. E a cada luto, ou a cada vez em que pranteamos a perda de alguém querido, tememos visceral e deseperadamente o próprio fim....e aceleramos nossos esforços por produzir, por dizer o que calamos por tanto tempo, por encontrar nossas "verdades", por agarrar-nos aos laços que nos prendem ao mundo que conhecemos e tudo o que está ao nosso lado, por tudo o que nos situa e faz oposição à interrogação mais incisiva, que é aquela que nos interroga sobre a nossa própria inexistência.

Mas sou movido, como acredito que todos os que partilham dessa aposta, pelo apego à vida, pelo desejo de seguir, pela necessidade de dar lugar à dor, mas cuidar das minhas feridas, pelo amor, pela permanência (ainda que sempre impermanente), pela manutenção, pelo pulsar.

Sigo pulsando, buscando, acreditando, investindo minhas força e meu ser nas possibilidades que nem conheço, mas nas quais me agarro e que me dão sentido. E assim sigo minha jornada, junto dos que amo e dos meus castelos, ciente de que, tijolos ou cartas, sempre terão sido feitos para se apagar com o tempo..... mas isso não muda o desejo de fazê-los cada vez mais, maiores e mais fortes!

2 comentários:

  1. Lindo texto! O luto é mesmo uma experiência universal assustadora, e desde criança temos de aprender a lidar com os vários lutos da nossa vida apoiando-nos nos outros, encarando a realidade e reinvestindo nossa energia para ultrapassar esses momentos difíceis. O difícil, mas saudável aprendizado de conviver com a dor, pode levar ao enriquecimento, transformando-a em um movimento positivo que possa ajudar aos outros e a nós mesmos. Com diz no seu texto, siga em frente, aposte na vida, siga pulsando…

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  2. Texto lindo, com toda a intensidade que merece o falar do luto. Estado que nos dá a seu tempo ae a nosso "gosto" as mais importantes possibilidades de continuar com o amor maior da existência que é a Vida. Parabéns

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